30.5.11

Amor surrealista

Trocamos amo-te ao acaso, belos olhos, lindo sorriso, prometes-me o infinito sob a condição de manter no segredo dos deuses, este efémero sentimento que parece pecado nos olhos, nos ouvidos e nos lábios dos outros. Oh vida como és cruel, que me amaldiçoaste com esta ingenuidade fingida, enquanto guardo a minha real pessoa, a minha perversidade no bolso, naquele pacote comprado no mercado mais próximo às 5 da tarde, enquanto o chá aquecia. Oh mundo como és duro, és duro nas várias formas em que expões o que tens a mostrar. Passea o corpo que carregado está de demonstrações poéticas, românticas e embelezadas daquilo que é senão uma dor profunda. Oh e essas marcas que carrego como minhas (de mais ninguém), essas marcas que me magoam a alma, que criam máscaras e fantasmas como protecção de demonstrações. Nunca a arte foi tão bem representada pelos corpos que passeam por aí. Nunca um artista foi tão glorificado como quando a dor faz-se dona e rainha daquilo que deveria ser apenas mais um corpo que passeava. Nunca as feridas foram tão fundas como quando me levantei desse teu chão duro, oh mundo! E olha que gritei, gritei com os pulmões intoxicados com esse ódio que todos falam. Fui deixada no lugar dos menos afortunados, pobres de espírito, fracos que continuam no chão como procura de conforto, tentanto encontrar algo de confortável nele, pois eu digo-vos que não é, nunca será. Apenas deixei uma gota de sangue para que o momento fosse assinalado e proclamasse assim essa minha gloriosa vitória de quem não sofre por prazer. Esse amor surrealista, muito penoso, pouco proveitoso de algo que não chega sequer para aquecer o coração. Oh vida como és cruel, oh mundo como és duro, acabas de criar mais um monstro para o futuro.

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