28.6.11

Letters to him #3


Vi-te ao longe, estavas sério como seria de esperar e a situação assim o requeria. Varreste a sala com o olhar, um olhar duro e frio, procuravas por alguém, isso viasse na réstia de esperança cravada nos teus olhos. Baixaste a cabeça como sinal de derrota, quero acreditar que os teus olhos frios me procuravam com o coração quente. Fiquei a observar-te a reunião toda, estavas tão ausente quanto eu, alheio a tudo, tentavas recordar, sei disso, colocavas esse olhar baço como sempre. Não podia deixar de reparar nos teus braços, fortes e musculados como me lembro, tinha saudades deles, ou melhor, dos abraços que me proporcionavam. Saiste no primeiro instante em que tiveste oportunidade, estavas furioso com alguma coisa, se bem te conheço, contigo próprio. Compreendo-te, culpaste por ainda pensares em mim, por te permitires sequer a procurar por mim. Desculpa, eu também gostava de ir ter contigo e perguntar por novidades dele, dela, deles, mas não tenho coragem de ver esses teus olhos frios e tristes a julgarem como uma lança afiada ao meu coração. Provavelmente, regressaste a casa e foi o que eu fiz também, partiste num avião, eu de carro. Foste para o atelier, aposto, é isso que fazes quando estás irritado para não magoares ninguém com as tuas palavras rudes, eu fui para a minha varanda. Sentaste-te na tua cadeira, eu no meu puff, tamboriaste os dedos em cima da mesa e eu em cima das cordas da minha guitarra, enquanto te cantava baixinho, na esperança que ouvisses, aposto que não. Não sabes como a noite me envolve numa escuridão profunda, não só exterior, mas também interior. Quero voltar, mas não posso. Quero ficar, mas não consigo. Quero mudar, mas não tenho força. Quero manter-me fiél a mim mesma, mas não tenho coragem. Quero-vos a vós, mas não sei se quero...

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