carta à pessoa que gostavas de ser

Hallo perfect me,

Tu sabes que eu adorava ser como tu não sabes? Sabes pois... Sabes que eu gostava de andar sempre com esse sorriso contagiante, a espalhar boa disposição por aí e ouvir o outros com a maior das atenções, tendo sempre o cuidado de deixar um conselho aconchegante. Sabes que eu gostava de ser a filha perfeita, com notas perfeitas, comportamento perfeito e atitude mais do que perfeita. Sabes que eu gostava de ter a garra de lutar, mas eu não tenho, tenho por vício desistir demasiado fácil e perco. Sabes que eu gostava de ser uma vencedora, mas... à quem disso fiquei. Sabes que eu gostava de não magoar as pessoas, ou pelo menos de tempos a tempos meter uma pausa, neste iceberg que qualquer dia afunda com um mar de bitches à volta e a fazer uma festa sobre o meu túmulo. Sabes que eu gostava de me tele transportar, sabes que eu nem devia ter nascido aqui. Já me imaginaste com um pai galã, poliglota, residente em Pari? Já me imaginaste com 4 anos, branca e rechonchuda, com uma bóina pela cabeça, uma farta toda catita e de mão dada com a minha mãe para ir para a creche? Já me imaginaste a desencantar a primeira verdadeira amiga, a dar o meu primeiro beijo, a experimentar o meu primeiro cigarro sobre a iluminação da torre eiffel? Já me imaginaste a viver o meu primeiro amor com um eterno romântico francês, alto e com sardas, sempre pronto a dar-me um abraço aconchegante? Já imaginaste o que podia ser diferente? Já imaginaste o que poderia ter perdido? Ou ganho? Já imaginaste que deixaria de ser eu... Talvez 1/2 de mim, talvez a melhor parte de mim. Talvez um nada de mim, quem sabe?
Talvez, só talvez, ainda vá a tempo de concretizar a última parte... talvez eu ainda tenha oportunidade de recomeçar de novo, talvez eu posso parar de magoar pessoas. Talvez só talvez, eu precise de tempo...

E tu não precisas mais de mim, precisas de gostar mais de ti.